domingo, 16 de junho de 2013

Carlos Drummond de Andrade



Poeta, cronista, contista e tradutor brasileiro. Sua obra traduz a visão de um individualista comprometido com a realidade social.
Na poética de Carlos Drummond de Andrade, a expressão pessoal evolui numa linha em que a originalidade e a unidade do projeto se confirmam a cada passo. Ao mesmo tempo, também se assiste à construção de uma obra fiel à tradição literária que reúne a paisagem brasileira à poesia culta ibérica e européia.
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade natal, em Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Excelente funcionário, passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
Predomínio da individualidade. O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo, no que desmonta, dispersa, desarruma, do berço ao túmulo -- do indivíduo ou de uma cultura.
Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.
No Aeroporto
Carlos Drummond de Andrade


Viajou  meu  amigo  Pedro.  Fui  levá-lo  ao  Galeão,  onde
esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse tempo, não
faltou assunto para nos entretermos, embora não falássemos da vã
e  numerosa  matéria  atual.  Sempre  tivemos  muito  assunto,  e  não
deixamos de explorá-lo a fundo.
Embora Pedro seja extremamente parco de palavras, e, a
bem  dizer,  não  se  digne  de  pronunciar  nenhuma.  Quando  muito,
emite sílabas; o mais é conversa de gestos e expressões pelos quais
se faz entender admiravelmente. É o seu sistema.
Passou  dois  meses  e  meio  em  nossa  casa,  e  foi  hóspede
ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo plausível.
Era  a  sua  arma,  não  direi  secreta,  porque  ostensiva.  A
vista  da  pessoa  humana  lhe  dá  prazer.  Seu  sorriso  foi  logo
considerado  sorriso  especial,  revelador  de  suas  boas  intenções
para  com  o  mundo  ocidental  e  oriental,  e  em  particular  o  nosso
trecho de rua. Fornecedores, vizinhos e desconhecidos, gratificados
com esse sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam a
classificação.
Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho;
tinha  horários  especiais,  comidas  especiais,  roupas  especiais,
sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua simples presença e
seu sorriso compensariam providências e privilégios maiores.
Recebia  tudo  com  naturalidade,  sabendo-se  merecedor
das  distinções,  e  ninguém  se  lembraria  de  achá-lo  egoísta  ou
importuno.
Suas  horas  de  sono  -  e  lhe  apraz  dormir  não  só  à  noite
como  principalmente  de  dia  -  eram  respeitadas  como  ritos
sagrados, a ponto de não ousarmos erguer a voz para não acordá-
lo. Acordaria sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a
gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos o corte de
seus  sonhos. Assim, por conta de Pedro, deixamos de  ouvir muito
concerto  para  violino  e  orquestra,  de  Bach,  mas  também  nossos
olhos  e  ouvidos  se  forraram  à  tortura  da  tevê.  Andando  na  ponta
dos pés, ou descalços, levamos tropeções no escuro, mas sendo por
amor de Pedro não tinha importância.
Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gosta de
óculos  alheio  (e  não  os  usa),  relógios  de  pulso,  copos,  xícaras  e
vidros em geral, artigos de escritório, botões simples ou de punho.
Não  é  colecionador;  gosta  das  coisas  para  pegá-las,
mirálas e (é seu costume ou sua mania, que se há de fazer) pôr-las
na boca. Quem não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém
duvido  que  mantenha  este  juízo  diante  de  Pedro,  de  seu  sorriso
sem malícia e de suas pupilas azuis - porque me esquecia de dizer
que tem olhos azuis, cor que afasta qualquer suspeita
ou acusação apressada, sobre a razão íntima de seus atos.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM

AEROPORTO-CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

8ª série/9ºano
TRABALHANDO A COMPETÊNCIA LEITORA
Texto: AEROPORTO – Carlos Drummond de Andrade

OBJETIVOS
- Que o aluno reconheça o gênero crônica e suas características;
- Que o aluno explore o conhecimento de mundo e faça o levantamento de hipóteses.

TEMPO PREVISTO
4 aulas

CONTEÚDOS
- Características do gênero;
- As diferentes formas de percepção do cotidiano;
- Ampliação do vocabulário.

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
- Identificar a finalidade de um texto, seu gênero e assunto principal;
- Inferir informação pressuposta ou subentendida em um texto literário, com base na sua compreensão global;
- Inferir opiniões ou conceitos pressupostos ou subentendidos em um texto.

ESTRATÉGIAS
- Levantamento de hipóteses, partindo do título;
- Leitura do primeiro e último parágrafos pelo professor. Os demais fragmentos serão distribuídos entre os grupos e lidos.

RECURSOS
- Texto;
- Dicionário;
- Pesquisa (Internet)
- Análise biográfica do autor.

AVALIAÇÃO
Análise do gênero crônica e dos pontos de vista apresentados (oralidade)
 Moacyr Scliar


Escritor e médico, Moacyr Jaime Scliar nasceu no dia 23 de março de 1937, no bairro do Bom Fim, Porto Alegre, e faleceu no dia 27 de fevereiro de 2011, aos 73 anos de idade. Em toda sua vida trabalhou como médico e escritor  e publicou cerca de 80 livros.
Moacyr Scliar era casado com Judith, com teve um único filho. Scliar era descendente de russos, seus pais eram da Bessarábia e chegaram no Brasil em 1904. Scliar se formou em Medicina pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), tornou-se especialista em Saúde Pública, concluiu doutorado em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública.
Em 1962, lançou o seu primeiro livro, “Histórias de médico em formação”, composto por contos inspirados em suas experiências de estudante. Em 1968, publicou “O carnaval dos animais”, sua primeira obra verdadeiramente literária.
Dentre suas obras destacam-se “O Exército de um homem só”, “A estranha nação de Rafael Mendes” e “O centauro no jardim”. Escreveu artigos para os jornais Zero Hora e Folha de São Paulo. Foi eleito como membro da ABL (Academia Brasileira de Letras) no ano de 2003. Recebei o prêmio Jabuti três vezes.
O primeiro prêmio Jabuti foi recebido em 1988, pela obra “O Olho Enigmático”; em 1993, recebeu o segundo, pela obra Sonhos Tropicais”, ambos na categoria melhor romance; e, em 2009, com a obra “Manual da Paixão Solitária”, na categoria de livro do ano.
Em 1980, já havia recebido o prêmio de literatura da APCA, pela obra “O Centauro no Jardim”. Em seus livros há sempre a abordagem de temas médicos, sociais e sobre o judaísmo no Brasil. Seus livros foram traduzidos para doze idiomas.
Como médico alcançou destaque a partir de 1969, assumindo os cargos de chefe da equipe de Educação em Saúde da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul e como diretor do Departamento de Saúde Pública. Apesar de sua intensa atividade literária, era um autor que escrevia muito, conseguiu encontrar tempo para cursar pós-graduação em medicina comunitária em Israel. Em 2002, concluiu doutorado em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública, o título de sua tese foi “Da Bíblia à Psicanálise: Saúde, Doença e Medicina na Cultura Judaica”.
A relatar a imigração judaica no Brasil, a obra “O Centauro no Jardim” foi considerado como um dos melhores livros sobre o tema nos últimos tempos pelo  National Yiddish Book Center. O escritor faleceu no dia 27 de fevereiro, no Hospital de Clínicas em Porto Alegre, vítima de um AVC (acidente vascular cerebral), o falecimento foi em decorrência de falência múltipla dos órgãos.

Fontes:
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/02/moacyr-scliar-e-enterrado-em-porto-alegre.html
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/881692-morre-aos-73-anos-o-escritor-gaucho-moacyr-scliar.shtml
http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/agenciaestado/2011/02/27/morre-aos-73-anos-o-escritor-moacyr-scliar.jhtm
Pausa
Moacyr Scliar



Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama,correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu-se rapidamente e semruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu,bocejando:
— Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a frontecalva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém-feita, deixavaainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.

— Todos os domingos tu sais cedo — observou a mulher comazedume na voz.
— Temos muito trabalho no escritório — disse o marido,secamente
Ela olhou os sanduíches:
— Por que não vens almoçar?
— Já te disse; muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse àcarga. Samuel pegou o chapéu:
— Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou ocarro da garagem. Guiava vagarosamente; ao longo do cais, olhando osguindastes, as barcaças atracadas. Estacionou o carro numa travessa quieta. Como pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras.Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo.
Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com aschaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numapoltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
- Ah! seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinhobom este, não é? A gente...
- Estou com pressa, seu Raul - atalhou Samuel.
- Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. - Estendeu achave.
Samuel subiu quatro lanços de uma escada vacilante. Aochegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam-nocom curiosidade:
- Aqui, meu bem! - uma gritou, e riu; um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave.Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda-roupa de pinho; a umcanto, uma bacia cheia d'água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinasesfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou-o namesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido;com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata.
Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papelde embrulho, deitou-se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover-se: os automóveisbuzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se pela cortina, estampou um círculoluminoso no chão carcomido.
Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa. Perseguidopor um índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planaltoda testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuelmexia-se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nascostas. Sentou-se na cama, os olhos esbugalhados; índio acabara de trespassá-locom a lança Esvaindo-se em sangue, molhado de suor. Samuel tombou lentamente:ouviu o apito soturno de um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama,correu para a bacia, lavou-se. Vestiu-se rapidamente e saiu. Sentado numapoltrona, o gerente lia uma revista.
- Já vai, seu Isidoro?
- Já - disse Samuel, entregando a chave. Pagou,conferiu o troco em silêncio.
- Até domingo que vem seu Isidoro - disse o gerente.
- Não sei se virei - respondeu Samuel, olhando pela porta; anoite caía.
- O senhor diz isto, mas volta sempre - observou o homem,rindo.
Samuel saiu.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou um instante,ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois,seguiu. Para casa.
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM

PAUSA – MOACIR SCLIAR

TEMPO PREVISTO: 10 aulas
SÉRIE/ANO: 8ªsérie/9ºano
CONTEÚDO TEMÁTICO:
Conto – definição e característica estudo do gênero, discurso direto e indireto, pontuação, ortografia, acentuação, foco narrativo – vocabulário, dados do autor, estudo do tema e título.
COMPETÊNCIAS  E  HABILIDADES:
H1 – Identificar o estudo do sentido produzido em um texto literário pela exploração de recursos ortográficos ou morfossintáticos. 
H22- Inferir o efeito de humor produzido em um texto pelo uso intencional de palavras, expressões ou imagens ambíguas.
ESTRATÉGIA:
Leitura silenciosa e oral
Levantamento do conhecimento prévio do aluno com roteiro de questões
Utilização de figuras para leitura d imagens, (cansaço, nervosa, repouso, etc.)
Dramatização
Música (Gilberto Gil – Vamos Fugir) trabalhar a fuga da realidade
Pesquisa (quais os tipos de problemas que levam á da realidade), uso dos dicionários, discussão em grupo e fechamento oral.
RECURSOS:
Música
Imagem
Livro didático
Figuras
Dicionário
Biblioteca
Vídeos CDs
Textos diversificados
Internet
AVALIAÇÃO:
Participação das atividades individuais e em grupo, observação da entonação da leitura oral do aluno, 
Clarice Lispector

Clarice Lispector (Tchetchelnik Ucrânia 1925 - Rio de Janeiro RJ 1977) passou a infância em Recife e em 1937 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito. Estreou na literatura ainda muito jovem com o romance Perto do Coração Selvagem (1943), que teve calorosa acolhida da crítica e recebeu o Prêmio Graça Aranha.
Em 1944, recém-casada com um diplomata, viajou para Nápoles, onde serviu num hospital durante os últimos meses da Segunda Guerra. Depois de uma longa estada na Suíça e Estados Unidos, voltou a morar no Rio de Janeiro. Entre suas obras mais importantes estão as reuniões de contos A Legião Estrangeira (1964) e Laços de Família (1972) e os romances A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977).
Clarice Lispector começou a colaborar na imprensa em 1942 e, ao longo de toda a vida, nunca se desvinculou totalmente do jornalismo. Trabalhou na Agência Nacional e nos jornais A Noite e Diário da Noite. Foi colunista do Correio da Manhã e realizou diversas entrevistas para a revista Manchete. A autora também foi cronista do Jornal do Brasil. Produzidos entre 1967 e 1973, esses textos estão reunidos no volume A Descoberta do Mundo.
Escreve a crítica francesa Hélène Cixous: "Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mãe, se tivesse chegado aos cinqüenta. (...). É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde fôlego, ela continua, mais longe ainda, mais longe do que todo o saber".